O Silêncio das Palavras 2xl54
Era um daqueles dias que se vestem de incerteza, um dia que ninguém planeja, mas que o destino sussurra ao coração, como um segredo bem guardado. O ano, perdido nas brumas do ado, não tinha importância. O que importava eram os rostos ansiosos, os olhos curiosos, e o início de uma jornada naquela pequena sala de aula. 6w2n58
O projeto Mobral se desenrolava diante de mim, com um grupo diverso de alunos: senhoras e senhores, adultos e idosos. Entre eles, minha mãe, que mal sabia escrever o próprio nome. Naquele momento, eu não sabia o que aquilo significaria, mas a memória do sorriso que brilhou em cada rosto quando receberam o certificado de alfabetização permanece viva.
Muitos começaram a jornada, mas alguns desistiram no meio do caminho. No entanto, minhas alunas perseveraram. Todas se tornaram alfabetizadas, e aquela conquista resplandeceu como um farol em suas vidas. Eu, na época, não compreendia completamente a magnitude daquilo, mas a lembrança da cerimônia no antigo Centro Social Urbano do Dirceu Arcoverde ficou gravada em minha alma.
A vida me levou por outros caminhos. Viajei, conheci o mundo, vivi aventuras e desventuras. Por capricho do destino, retornei à sala de aula, mas desta vez como professor substituto. Sem que eu percebesse, me tornei professor.
Alguém, um dia, indagou por que eu permanecia no magistério, mesmo quando havia oportunidades financeiras mais vantajosas fora da sala de aula. É verdade que o salário é modesto, as condições de trabalho nem sempre são as melhores, mas minha resposta sempre foi a mesma: não escolhi ser apenas um professor. Eu almejava ser um servidor efetivo do estado do Piauí, alguém que pudesse contribuir para a construção do futuro.
Mesmo com outras atividades em minha vida, a sala de aula se tornou minha terapia. Ela é, preferencialmente, lotada, com adolescentes barulhentos, impacientes e, por vezes, desinteressados. Ali, naquele espaço, enfrento minhas próprias inquietações.
Às vezes, vejo a curiosidade reluzir nos olhos de alguns alunos, seja pela História, pela Geografia, ou até mesmo pela Política. Ainda existem aqueles que se deixam levar pelo cansaço e adormecem em aulas menos empolgantes, com recursos escassos. Pois, sim, a jornada docente nem sempre é um mar de rosas.
Entretanto, é ali, naquele recinto, que deixo minha marca na humanidade. Muitos, é verdade, logo me esquecerão, mas alguns recordarão os momentos que compartilhamos. Eles me ensinam a ser melhor, a ser mais humano. Eles moldam minha jornada para que eu me torne uma pessoa mais íntegra e comiva.
No Dia dos Professores, meu desejo é para aqueles que veem a docência como mais do que uma mera profissão, para os que fazem do ensino uma paixão, um legado, e um privilégio. Não para aqueles que veem apenas o lado mercantil da atividade, mas para os professores que tornam o ato de ensinar uma verdadeira celebração da vida. Feliz Dia dos Professores.
Por José Maria G Freitas - Professor
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